História e estrutura da Internet
A Internet nasceu - segundo um mito muito popular , porém com fundo verdadeiro - no final dos anos 60, quando o ministério da defesa dos EUA encomendou uma ligação entre os computadores mais potentes e importantes da nação, de modo que a comunicação de dados militares funcionasse mesmo depois de um ataque nuclear. A solução apresentada era um pacote tão genial quanto simples.
Já em 1972, esta rede militar (com o nome de ARPANET - Advanced Research Projects Agency Net) foi aberta à comunidade científica mundial e se transformou aos poucos na Internet. Inicialmente só utilizada por alguns institutos de pesquisa e poucos cientistas nas universidades,
a Internet ganhou o papel de uma rede de comunicação planetária através do seu crescimento exponencial e suas convenções mundialmente estabelecidas. No Brasil, o acesso era primeiro restrito às universidades e alguns institutos ligados à RNP; desde 1995, provedores comerciais dão acesso ao público em geral.
Network: Utilizou-se uma rede diversificada com conexões entre todos os possíveis tipos de canais físicos de comunicação: linhas de dados e de telefone, transmissão por rádio e satélite. Havia muitos caminhos para chegar de um computador ao outro. Se um deles estava interrompido, escolhia-se o desvio mais próximo.
Protocols: Criaram-se padrões para o formato dos dados comunicados entre computadores. Estes "protocolos" são independentes das plataformas de hard- e softwares utilizados. Desta forma, computadores dos tipos IBM/PC, Apple/Macintosh, Atari, Amiga, UNIX etc. podem se comunicar, independente do aplicativo utilizado. A família de protocolos TCP/IP se tornou a língua franca da Internet.
Packet switching: O fluxo de dados é dividido em pequenos pacotes, que são encaminhados independente um do outro, junto com os dados do remetente e destinatário, igual a uma encomenda postal tradicional. Quando um deles é danificado ou extraviado no transporte, ele é retransmitido automaticamente, sem necessidade de repetir toda a comunicação. O "serviço de troca de pacotes" também facilita o uso simultâneo de uma linha de dados por um grande número de usuários.
Name Service: Cada computador tem um nome e uma identificação de 4 grupos numéricos (parecido com o sistema mundial de números telefônicos). Nos servidores de nomes encontram-se tabelas para a conversão entre os dois. Assim, o computador que é a porta para a UFSC tem o nome: www.ufsc.br e o número: 150.162.1.240
Mirroring: Bancos de dados importantes são "espelhados", ou seja, mantidos em várias cópias físicas sob diferentes endereços, para facilitar o acesso.
Telnet: Pequeno programa que estabelece uma ligação direta entre dois computadores na rede, por exemplo para acessar material em diretórios públicos no computador remoto.
FTP (file transfer protocol): Este "protocolo de transferência de arquivos" é um outro pequeno programa útil para copiar arquivos de máquinas remotas, sem acessar o conteúdo destes arquivos.
World Wide Web: "Teia mundial" (abreviado como WWW ou W3), é um serviço gráfico, baseado em documentos editados no padrão HTML (hypertext mark-up language = linguagem de marcar em hipertextos) que podem incluir links (ligações) que remetem o usuário para outras partes do mesmo documento (útil quando se trata de volumes maiores de texto), para arquivos multi-mídia (sons, gráficos, vídeos), para programas externos (como o FTP, um programa de busca de dados ou alguma outra aplicação), ou para outros documentos em qualquer localização da rede mundial. Estas páginas encontram-se em diretórios abertos ao público, em máquinas permanentemente ligadas na rede (chamadas de servers = servidores).
Em termos da teoria de sistemas, há uma analogia surpreendente com sistemas biológicos, como, por exemplo, processamento e estocagem de informações holísticos e distribuídos nas redes neuronais do nosso cérebro; a estrutura rigidamente caótica com controle decentralizado pela cooperação de todas as partes, a grande flexibilidade e capacidade de se adaptar a novas exigências com rapidez e sem interromper o funcionamento atual, a contribuição simultânea ativa e passiva de todos os componentes, etc.
Nos EUA, o avanço da Internet teve seu respaldo na política educacional. A National Science Foundation, por exemplo, financia a ligação de universidades e escolas, desde que todos os computadores destinados ao trabalho de professores e alunos sejam conectados. Em final de 1993, o governo Clinton estabeleceu a meta de dar acesso à Internet a todos os cidadãos americanos até o final da década.
No momento, a Internet integra mais de 40 milhões de usuários diretos em mais de 50 países. Outras redes, como EARN, BITNET, UseNET, NewsNet, FidoNET ou CompuServe, America On-line etc. dão acesso indireto, via "gateways". Na área científica, grande parte do intercâmbio de conhecimentos e sua discussão já hoje acontece na Internet, seja por contato individual mediante correio eletrônico (e-mail), seja por "e-mail coletivo" nos mais de 6.000 grupos de discussão de assuntos específicos da UseNET, e, cada vez mais, pela WWW, com a facilidade de abranger informações em formato multimídia (imagens, sons, vídeos).
Algumas considerações teóricas
Um dos grandes perigos que se corre com o uso das novas tecnologias no ensino é cair no erro de propagar modelos didáticos da "idade da pedra" com a ajuda da tecnologia da "idade do espaço", conforme Hardisty e Windeatt (1989;3) ao citarem Alan Maley, que reforça uma crítica de Higgins (1988) neste sentido. Na primeira onda de utilizar o computador para fins educativos, nos anos 80, muitas vezes tratava-se o computador de fato "as a one-way system, a purveyor of information, a drillmaster, or tutor which spent more time telling students what they should know than it did encouraging them to discover things for themselves" (Underwood, 1989, p. 72). Mais uma vez confirmou-se uma das teses do clássico da mídia, Marshall McLuhan, de que uma mídia nova, de início, apenas divulga os mesmos conteúdos anteriores (McLuhan, 1964, p. 16), sem nem questioná-los ou desenvolver novas formas, mais adequadas. Depois de uma fase inicial, de jogar apenas toda a produção impressa dentro da rede mundial de dados, hoje, devido à World Wide Web e seus recursos multi-mídia, a Internet começa a sua própria linguagem, e, com as facilidades da linkagem entre elementos e meios normalmente separados, acrescenta formas inéditas de trabalhar e apresentar conteúdos. Segundo Begley (1994, p. 47), o ser humano consegue reter 10% do que ele vê, 20% do que ele ouve, 50% do que ele ouve e vê (a vantagem multi-mídia), e 80% do que ele simultaneamente ouve, vê e faz (o salto interativo).
Com isso, o adolescente e adulto teriam o maior aproveitamento na aprendizagem se recebessem as informações justamente na hora em que são necessárias (para resolver uma outra tarefa). A dificuldade básica do defasamento e da distância do ensino da vida real é resumido drasticamente por Williamson (1994, p. 84), que chama a sala de aula tradicional de "oxímoro". Qualquer forma de aprendizagem controlada e planejada dificilmente escapará deste dilema. O uso da Internet no ensino pelo menos pode dar a chance de aumentar as atividades autóctonas e direcionadas do estudante, dentro da área de conhecimento em questão. O estudo de Ellis (1992), sobre o uso da Internet para o ensino do francês como língua estrangeira no Canadá, documenta esta vantagem, apesar das limitações (técnicas) vigentes na rede do final dos anos 80.
Partindo da
teaching machine do behaviorismo skinneriano no início do uso do computador como instrumento didático, a metodologia da Internet de hoje se aproxima
muito mais dos modelos construtivistas, que são amplamente citados como embasamento teórico do emprego destas tecnologias interativas no ensino, e não por acaso. Tanto o ideário do construtivismo (como o princípio básico de que no
processo de aprendizagem, o estudante constrói e conecta elementos de compreensão em vez de repetir pedaços de instrução) quanto o do ensino interativo (que a mão dupla da interação facilita todo processo de apreender, por evitar barreiras mentais como o medo e a insegurança e por incentivar atividade porcionada com progressão rumo ao objetivo do ensino) encontram na Internet uma ferramenta que implementa grande parte de seus axiomas.
Os tão criticados programas de CBT (computer based training), CAI (computer aided instruction) e CALL (computer assisted language learning) não devem ser considerados completamente obsoletos, desde que tenham um grau de interatividade razoável, que os diferencie de um mero retroprojetor individual de alto luxo, onde a interação limita-se a virar as páginas com a ajuda do mouse. Principalmente na parte do estudo autônomo, numa midiateca ou em casa, estes sistemas podem dar uma contribuição válida, ainda mais quando são integrados às aulas em termos de conteúdo e metodologia. Porém, o uso da Internet, sem dúvida, representa o ponto mais avançado da aplicação das novas tecnologias para fins educativos, não apenas no sentido de hard- e software.
O uso da Internet para fins educativos
Para as escolas, a Internet, até o momento, ocupa um papel secundário. Atualmente encontram-se cerca de 1.000 escolas na rede no mundo inteiro. Existem, porém, projetos em vários países para incentivar o uso dos recursos da Internet para o ensino em geral. O meu objetivo aqui é parecido: encorajar professores de todos os tipos de escolas a utilizar o potencial da rede mundial de dados para as suas aulas. Para isso quero esboçar algumas possibilidades concretas, ilustradas com exemplos práticos.
Em primeiro lugar, a Internet não deve ser apenas encarada como milhões de computadores, cujos recursos podem ser compartilhados, e sim como os milhões de seres humanos atrás das telas e dos teclados: cientistas, professores, alunos e pais, que podem entrar em contato como pessoas, fazer perguntas ou respondê-las, discutir, trocar informações e dicas, colocar opiniões, divulgar informações e muito mais, independentemente do tempo e do espaço. Ao contrário do telefone, o remetente e destinatário de um e-mail ou os debatedores de um forum de discussões não precisam participar ao mesmo tempo, um fator importante não apenas no intercâmbio entre continentes. Não há mais necessidade de reunir grupos de trabalho no mesmo lugar na mesma hora para poder resolver um problema em comum.
Evidentemente, a comunicação eletrônica abrange apenas uma parte da comunicação humana. Ela não pode nem deve substituir o diálogo pessoal (em aula) ou o contato humano direto. Mas ela abre dimensões novas de contato e comunicação adicionais, justamente além das limitações impostas por tempo e espaço, que não seriam possíveis (física e financeiramente) sem ela. O uso da rede mundial de comunicação propicia acesso à informação e comunicação mundial (os bens mais valiosos da sociedade do 3º milênio) para as regiões e instituições menos privilegiadas. Antes disponível apenas para a máquina militar da 1ª potência do planeta, hoje estão ao alcance de cada escola que possa destinar um computador médio e uma linha telefônica a este fim.